Emprego perdeu fôlego em setembro, preveem analistas

O início do período de contratações temporárias deve ter dado algum alento à geração de vagas formais em setembro, avaliam economistas, mas foi insuficiente para tirar o mercado de trabalho da rota de desaceleração observada nos últimos meses. Segundo analistas, a indústria seguiu mostrando comportamento pior do que a média, mas outros setores, como o comércio e os serviços, também já começaram a ser afetados pela estagnação da atividade econômica.

A estimativa média de 11 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta que 123,8 mil postos de trabalho formais foram abertos no mês passado. Se confirmado, esse resultado representará recuo de 41,3% em relação ao mesmo mês de 2013, quando 211 mil empregos com carteira assinada foram criados. As projeções para o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que deve ser divulgado hoje pelo Ministério do Trabalho, vão de 68,8 mil até 173,4 mil novas vagas em setembro.

Rodrigo Leandro de Moura, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), afirma que setembro é um mês sazonalmente aquecido para o mercado de trabalho formal, devido à abertura de vagas na indústria e nos serviços para atender a demanda extra das festas de fim de ano. Mesmo assim, diz ele, a expectativa do Ibre, de abertura de 149,5 mil empregos celetistas no período, pode ser vista como um dado ruim.

"É um resultado em linha com o de setembro de 2012, quando 150,3 mil postos foram abertos", compara Moura. Naquele ano, ele lembra que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 1%. Portanto, se confirmada sua estimativa para o Caged do mês passado, o economista avalia que a tendência de desaquecimento do mercado de trabalho será reforçada, embora a taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas permaneça em patamar muito baixo, devido à redução da força de trabalho.

Nos cálculos de Moura, a indústria de transformação abriu 45 mil vagas com carteira no mês passado, 28,8% a menos do que o saldo registrado em setembro de 2013. Os serviços, segundo o pesquisador, ainda não devem mostrar piora tão expressiva, mas já não estão mais segurando a geração de empregos como nos últimos anos. O Ibre trabalha com a abertura de 109,8 mil postos neste segmento no mês. "A renda ainda sustenta um desempenho um pouco melhor do emprego neste setor, mas cada vez menos", disse.

Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria, também vê sinais de desaceleração neste ramo de atividade. Dados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram queda do faturamento do setor, já descontada a inflação no período. O comércio também dá sinais de enfraquecimento, segundo Bacciotti, o que tende a reduzir o ritmo de criação de vagas com carteira assinada nestes dois setores nos próximos meses. "São segmentos que continuam empregando, mas menos do que no ano passado", diz.

Bacciotti estima que o saldo líquido entre admissões e demissões deve ter sido de 125 mil em setembro. Embora seja um número melhor do que os 101 mil empregos criados em agosto, o economista comenta que, na série com ajuste sazonal calculada pela consultoria, a geração de vagas formais passaria de 22 mil para 13 mil no período.

A construção civil e a indústria vão continuar como destaque negativo, afirma Bacciotti. No setor manufatureiro, as demissões começaram em maio e devem continuar em setembro, na série com ajuste sazonal, diz. "O noticiário recente mostra que as montadoras até intensificaram a adoção de férias coletivas e layoff como meio de enfrentar o baixo dinamismo da atividade e, por isso, não vejo reversão dessa tendência", diz, mesmo com aumento da produção entre julho e agosto.

Para o economista, como a recuperação da atividade econômica é bastante modesta, o mais provável é que a perda de fôlego da geração formal de empregos se torne mais espalhada entre os vários setores da economia. Para o ano, o economista estima criação de 300 mil novos postos, contra 731 mil em 2013.

No cenário do Ibre, outubro e novembro devem mostrar mais admissões do que demissões, em função das contratações temporárias, mas o mês de dezembro, que sazonalmente já é marcado por saldos negativos do Caged, pode ser ainda mais fraco em 2014, dependendo do resultado das eleições. Moura recorda que, em 2008, quando o país foi fortemente atingido pela crise internacional, o Caged contabilizou 655 mil cortes de vagas.

"Esse número não deve ser superado agora, mas a semelhança com aquela época é o elevado nível de incertezas, que fez as empresas ajustarem suas expectativas para baixo", afirma o economista. Como já existe um consenso de que 2015 será um ano difícil para a economia, os empresários tendem a mostrar comportamento semelhante no fim deste ano, na avaliação de Moura, mas o ajuste pode ser maior caso o atual governo seja reeleito.

Valor Econômico - Arícia Martins e Tainara Machado (15/10/2014)

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